sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O PROJECTO


Estudar a biodiversidade nos charcos e relacioná-la com condições abióticas


1-Enquadramento científico e pedagógico do projecto

A degradação e destruição física das bacias hidrográficas, na nossa região, estão associadas a alterações do uso dos solos, devido ao facto de, nas últimas cinco décadas, se ter desenvolvido a prática da agricultura intensiva, como, por exemplo, a plantação de pastos para o gado bovino. Tem-se vindo a constatar, por estudos científicos, que a fonte de poluição química destes habitats provém de agro-químicos utilizados na agricultura. Assim sendo, os adubos sintéticos, pesticidas e herbicidas chegam aos cursos de água por escorrência da água da chuva, contaminando os solos e aquíferos e interferindo substancialmente com a biodiversidade dos referidos habitats.

Como se integram os charcos neste contexto?

Os charcos são massas de água parada de carácter permanente ou temporário, de tamanho superior a uma poça (pequena massa de água efémera, que normalmente é possível atravessar com um só passo) e inferior a um lago (massa de água com mais de 1 hectare (ha.) de superfície e uma profundidade que permite a sua
estratificação). Os charcos são particularmente vulneráveis aos vários tipos
de poluição, devido ao baixo volume de água que conseguem armazenar,
resultando numa reduzida capacidade para diluir os poluentes,sendo, deste modo, afectada a vida que lá existe.

Em termos pedagógicos, alicerçamos este projecto na relevância que atribuímos à Educação em Ciência (relação com o saber); à Educação sobre Ciência (relação com os processos de construção do saber) e à Educação pela Ciência (relação com o modo de uso do saber) e também no pressuposto de que Ciência e Tecnologia são actividades socialmente úteis, com as quais os alunos se devem familiarizar. Pretende-se, também, promover a curiosidade científica e valorizar o desenvolvimento de destrezas relacionadas com a utilização do método científico experimental.

Importa aqui realçar que, actualmente, é comummente aceite pelas comunidades científica e pedagógica e pela sociedade, em geral, que a ciência é um processo de construção social, cuja evolução depende de interesses sociais, das políticas de cada época e tem uma clara influência na configuração das sociedades e nas grandes mudanças sociais.

Assim sendo, e uma vez que o mundo está cada vez mais influenciado pela ciência e pela tecnologia, importa assegurar que os futuros cidadãos estejam devidamente informados para nele viverem e exercerem com consciência a sua cidadania..
Neste sentido, fundamenta-se o projecto, começando por apresentar os objectivos de índole mais geral que se pretende atingir:

- Estimular a aquisição de comportamentos e valores favoráveis à conservação da natureza e da biodiversidade;

- Desenvolver a capacidade de lidar com a Ciência e com a tecnologia na resolução dos problemas do dia-a-dia;

- Incentivar os intervenientes a descobrir, valorizar e investigar os charcos e a sua biodiversidade;

- Identificar e monitorizar a fauna e a flora associada ao charco;

- Observar vida microscópica e seguir diferentes ciclos de vida;

- Avaliar a qualidade da água e realizar experiências laboratoriais de
carácter prático sobre o impacto de poluentes sobre a biodiversidade.

Como objectivos mais específicos, no âmbito da experimentação, pretende-se
PLANIFICAR INVESTIGAÇÕES

• Identificar problemas
• Formular questões
• Formular hipóteses
• Identificar variáveis
• Desenhar/montar actividades experimentais

INTERPRETAR INVESTIGAÇÕES

• Processar, manipular e organizar dados experimentais
• Apresentar dados correctamente
• Tirar conclusões
• Sugerir modificações

REALIZAR INVESTIGAÇÕES

• Observar
• Medir
• Descrever e relatar
• Manipular materiais
• Dominar técnicas
• Trabalhar metodicamente

COMUNICAR

• Relatar, oralmente, por escrito ou desenho, tendo em conta o rigor do conteúdo e a audiência a que se destina

2-Uma possível estratégia a implementar com os alunos

Colocar questões/problemas que irão desencadear a formulação de hipóteses, como tentativa de responder às questões. Estas conduzirão, também, ao desenho de actividades experimentais a realizar no sentido de se verificarem as hipóteses formuladas.

Exemplificação de questões

Que constituintes do ar e da água são fundamentais para a vida dos seres vivos?
Os alunos serão levados a dar exemplos de seres vivos que necessitam de componentes do ar (O2 e CO2), quer habitem o meio aquático quer habitem o meio terrestre.
Desafiar os alunos a pensar numa metodologia de trabalho que possa ser utilizada para testarem as suas hipóteses.

Discutir com elas a validade de tais metodologias, alertando para eventuais aspectos que poderão não conduzir a uma eficaz recolha de resultados para testar a hipótese.
Ter o cuidado de clarificar o que vão observar (variáveis) e a natureza dos registos a efectuar.

3- Actividades a realizar

1ª Fase – Identificação, com recurso à Carta Militar de Portugal (Ilha de São Miguel) e/ou ao Google Earth, na sala de aula ou no espaço da eco-escola, de pequenas massas de água (pequenas lagoas ou charcos) existentes na ilha de São Miguel.

2ª Fase – Com recurso a um receptor de GPS, localização, no terreno, das massas de água identificadas na 1ª fase. Nesta primeira visita, será feita uma caracterização sumária, onde serão recolhidas as seguintes informações:

Localização: coordenadas geográficas.
Características: altitude, comprimento máximo, largura máxima, área
Caracterização da zona envolvente: ocupação do solo, principais espécies da flora terrestre e aquática e vertebrados observados.

3ª Fase – Após a selecção dos charcos a serem estudados com maior profundidade, realizar-se-á uma segunda visita com vista a recolher amostras a serem analisadas no local e na escola e a analisar os seguintes parâmetros:
- temperatura ambiente
- temperatura da água
- profundidade de penetração da luz
- pH
- condutividade
- oxigénio dissolvido
- nitratos
- nitritos
- carbonatos
- cloretos
- fosfatos
- amónia
No laboratório serão realizadas as seguintes actividades complementares:
- “purificação” da água recolhida, recorrendo aos processos físicos constantes dos currículos.

- Identificação das espécies recolhidas, com construção de herbários e colecções de referência.

4-Divulgação do projecto/Produtos finais

De modo a desenvolver capacidades associadas à comunicação oral e escrita e até à expressão plástica, colocam-se como alternativas possíveis a:

- a elaboração de cartazes, filmes e powerpoints, descrevendo as actividades realizadas e os resultados obtidos;
- a elaboração de um trabalho escrito a ser publicado na revista da escola;
- a elaboração de um artigo para ser publicado num jornal diário da cidade de Ponta Delgada;
- a publicação dos resultados em blogue criado para o efeito;
- a organização de uma sessão aberta à comunidade educativa de sensibilização para a problemática dos charcos e para a sua manutenção.

5-Intervenientes no projecto

Da Escola:

Professores

Dr.Teófilo de Braga –Físico-Químicas
Mestre Nélia Melo –Biologia e Geologia
Dra.Maria João Oliveira- Físico-Químicas
Dra.Helena Carreiro - Biologia e Geologia

Alunos de vários níveis de ensino, alguns dos quais fazem parte da Eco-Escola.

Da Comunidade:

Prof. Doutor José Azevedo (Professor auxiliar com nomeação definitiva do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores)
Dr. David Santos (biólogo, com especialidade em Zoologia e prática em aves exóticas invasoras)
Sr. Emanuel Machado (naturalista amador)
Amigos dos Açores - Associação Ecológica

6- Materiais necessários:
-Uma máquina fotográfica e ou de filmar
-Uma Fita métrica
-Uma Bússola
-Um Receptor de GPS
-Uma Carta Militar
-Um Disco de Secchi
-Um Medidor multiparamétrico
-Dois Termómetros de mercúrio
-Quatro Lupas
-Cinco camaroeiros de tamanhos e malhas diferentes
-Uma peneira

7-Avaliação do Projecto

O essencial de qualquer processo de avaliação reside na relação entre o desempenho - o referido, e o que era esperado que se fizesse - os referentes. Estes estão descritos nos objectivos e nas questões que orientarão a nossa acção.

A avaliação será processual, sendo concretizada através da reflexão crítica sobre questões como as que se apresentam a seguir:

- Qual o impacto que o projecto teve na sensibilização dos alunos participantes e nas suas concepções e práticas, relativamente ao ambiente?
-Porque se adoptaram determinadas metodologias?
-Que obstáculos se encontrou?
-Quais os factores facilitadores do processo?
-Quais as limitações do projecto?

8-Calendarização dos Trabalhos




9-Intenções para o Futuro (ou Continuidade do Projecto)

Um projecto desta natureza nunca está concluído, quer porque neste ano lectivo é impossível aplicá-lo a todas as massas de água identificadas, quer porque numa escola todos os anos são recebidos novos alunos.

Assim, feita a avaliação do mesmo e em caso de ser positiva, o que estamos certos que será, serão feitos todos os ajustamentos necessários, nomeadamente será alargada a equipa de professores de modo a incluir outros grupos disciplinares e será renovado o pedido de colaboração a todos os parceiros envolvidos e eventualmente alargadas as parecerias, de modo a que o projecto tenha continuidade em próximos anos lectivos.