quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Projecto divulgado pelo Correio dos Açores

Projecto aprovado pelo governo dos Açores: Professores e alunos da escola das Laranjeiras estudam charcos de Ponta Delgada


01 Fevereiro 2011

Um grupo de professores e alunos da Escola Secundária das Laranjeiras vai desenvolver um projecto de estudo de charcos do concelho de Ponta Delgada, um de Vila Franca e outro da Povoação, com o objectivo de analisar a fauna e flora que se desenvolvem nestes pequenos lençóis de água e o impacto dos nutrientes das pastagens na qualidade da água. O projecto, aprovado pelo governo açoriano, envolve também investigadores da Universidade dos Açores.

Um projecto de cinco professores da Escola Secundária das Laranjeiras, das áreas da física, química, biologia, geologia e geografia, aprovado agora pelo governo açoriano, vai centrar-se no estudo da biodiversidade dos charcos da ilha de S. Miguel com o envolvimento de alunos do estabelecimento de ensino.
O projecto, intitulado ‘Água Fonte de Vida’, é da responsabilidade dos professores Teófilo Braga (Físico-Química); Nélia Melo (Biologia e Geologia); Maria João Oliveira (Físico-Químicas); Helena Carreiro (Biologia e Geologia); e Filomena Ramos (Geografia).
Da comunidade científica estão envolvidos no projecto, José Azevedo (Professor auxiliar com nomeação definitiva do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores); David Santos (biólogo, com especialidade em Zoologia e prática em aves exóticas invasoras); Emanuel Machado (naturalista amador); Virgílio Vieira (Departamento de Biologia da Universidade dos Açores) e a Associação Ecológica ‘Amigos dos Açores’.
Os responsáveis pelo projecto partem do pressuposto de que “a degradação e destruição física das bacias hidrográficas, na nossa região, estão associadas a alterações do uso dos solos”.
Explicam que esta realidade se deve ao facto de, “nas últimas cinco décadas, se ter desenvolvido a prática da agricultura intensiva, como, por exemplo, a plantação de pastos para o gado bovino”.
Realçam que se “tem vindo a constatar, por estudos científicos, que a fonte de poluição química destes habitats provém de agro-químicos utilizados na agricultura”.
Assim sendo, completam, os adubos sintéticos, pesticidas e herbicidas “chegam aos cursos de água por escorrência da água da chuva, contaminando os solos e aquíferos e interferindo substancialmente com a biodiversidade dos referidos habitats”.
O professor Teófilo Braga disse, a propósito, ao ‘Correio dos Açores’ que só depois das análises que se efectuaram durante os trabalhos de campo “é que será possível saber se os adubos têm afectado os charcos. De qualquer modo muitos deles estão abandonados pois hoje os lavradores deixaram de os usar para dar de beber ao gado”.

O estudo dos charcos

Os charcos são massas de água parada de carácter permanente ou temporário, de tamanho superior a uma poça (pequena massa de água efémera, que normalmente é possível atravessar com um só passo) e inferior a um lago (massa de água com mais de 1 hectare (ha.) de superfície e uma profundidade que permite a sua estratificação).
Os charcos “são particularmente vulneráveis aos vários tipos de poluição, devido ao baixo volume de água que conseguem armazenar, resultando numa reduzida capacidade para diluir os poluentes, sendo, deste modo, afectada a vida que lá existe”.
Em termos pedagógicos, os professores alicerçam este projecto na “relevância” que atribuem à Educação em Ciência (relação com o saber); à Educação sobre Ciência (relação com os processos de construção do saber) e à Educação pela Ciência (relação com o modo de uso do saber) e também no pressuposto de que Ciência e Tecnologia são actividades “socialmente úteis, com as quais os alunos se devem familiarizar”.
Pretende-se, também, “promover a curiosidade científica e valorizar o desenvolvimento de destrezas relacionadas com a utilização do método científico experimental”.
Os responsáveis pelo projecto referem, a propósito, que “é, actualmente, comummente aceite pelas comunidades científica e pedagógica e pela sociedade, em geral, que a ciência é um processo de construção social, cuja evolução depende de interesses sociais, das políticas de cada época e tem uma clara influência na configuração das sociedades e nas grandes mudanças sociais”.
O professor Teófilo Braga deixa claro, a propósito, que o principal objectivo do projecto “é envolver os jovens no ensino experimental das Ciências mas, é claro, não podemos esquecer a vertente da conservação da natureza”.
Realça que a sensibilização da comunidade para a defesa dos charcos, numa ilha com tantas lagoas e cursos de água, como São Miguel, “não é tarefa fácil, por isso será um trabalho feito junto dos lavradores proprietários dos pastos (ou rendeiros) aquando das visitas que lá serão efectuadas, explicando a razão da nossa presença e envolvendo-os se possível nos trabalhos de recolhas e apresentando-lhes os resultados das análises à água efectuadas que serão importantes para a saúde dos seus animais”.

“Estimular conservação
da natureza”

É uma acção que se enquadra no objectivo de “estimular a aquisição de comportamentos e valores favoráveis à conservação da natureza e da biodiversidade” além daqueles que estão ligados ao desenvolvimento da capacidade de lidar com a Ciência e com a tecnologia na resolução dos problemas do dia-a-dia;
Com os trabalhos de campo que serão desenvolvidos, vai-se identificar e monitorizar a fauna e a flora associada ao charco; observar vida microscópica e seguir diferentes ciclos de vida; e avaliar a qualidade da água e realizar experiências laboratoriais de carácter prático sobre o impacto de poluentes sobre a biodiversidade.
Após a selecção dos charcos a serem estudados com maior profundidade, no concelho de Ponta Delgada, um em Vila Franca do Campo e um na Povoação, realizar-se-á uma segunda visita com vista a recolher amostras para análise.
No final, será feita uma avaliação do projecto através da reflexão crítica sobre questões como a de “saber que impacto teve na sensibilização dos alunos participantes e nas suas concepções e práticas, relativamente ao ambiente?”
Entendem os seus responsáveis um projecto desta natureza “nunca está concluído, quer porque neste ano lectivo é impossível aplicá-lo a todas as massas de água identificadas, quer porque numa escola todos os anos são recebidos novos alunos”.
No caso da avaliação ser positiva, serão feitos “ajustamentos necessários”, como alargar a equipa de professores de modo a incluir outros grupos disciplinares e será renovado o pedido de colaboração a todos os parceiros envolvidos e, eventualmente, alargadas as parecerias, de modo a que o projecto tenha continuidade em próximos anos lectivos.
Autor: João Paz

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